Em pleno 1968, ano de convulsão mundial em plena euforia dos 60's, recheado de revoluções de Paris a Praga, passando pelo assassinato de Bobby Kennedy e de Martin Luther King, e acabando no princípio do desmoronamento soviético, o Brasil vivia o quarto ano de uma severa ditadura militar. Aos anos dourados em que a bossa nova transbordava da baía do Rio, sucedia-se assim um regime autoritário, impunemente punindo e castigando todos os que seguiam o impulso artístico, cultural e libertador da época.
É neste contexto que surge o movimento Tropicália, assinado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, os novíssimos Mutantes, Tom Zé e uns quantos nomes de proeminência nacional. Juntos, juntaram magistralmente a tradição musical brasileira com a explosão ideológica e artística mundial. Aos traços de psicadelismo junta-se o ritmo e movimento tipicamente brasileiro, a alegria da festa generalizada, espaço para experimentalismo, tudo salpicado por palavras de ordem num rol de non-sense, surrealismo e de dispersão carnivalesca. O resultado é uma gigantesca salada de fruta pop repleta de cores e com um sabor único ou, como desenha o Caetano, um monumento de "papel crepom e prata, olhos verdes de mulata", com lugar para luares do sertão, piscinas e coqueiros, olhos grandes e coração a balançar num samba de tamborim. Um monumento que é marco incontornável na cultura musical brasileira e universal e que assume como manifesto definitivo o álbum "Tropicália ou Panis et Circencis", nosso Disco Chen para esta semana.
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